Super Interessante

Você sabia?! (por Argeu Affonso)


Nestas horas, vale tudo. Rezar para a lista completa de santos, apertar patuás, acender velas, recitar a bíblia, fazer promessas. A maioria da Democracia Tricolor sabe muito bem o que é uma campanha de altos e baixos no Campeonato Brasileiro. Podem estar torcendo como nós pela melhoria do time no certame atual. Mais do que nós, duvidamos. Pois grande parte da DT passou pelos dramas de segunda divisão-volta à primeira-segunda outra vez. Enfim, o inferno da terceira. Os jovens de 2013 foram felizmente poupados disso. Lembramos com tristeza que no primeiro semestre de 1999 o Fluminense ficava às moscas. De manhã à noite, havia menos gente viva transitando pelo clube que pelo cemitério de São João Batista. Um grupo reunido desde cedo no jardim (que ficou apelidado de Senadinho) e à noite irmanado, ouvindo os jogos pelo rádio no bar do tênis, não deixávamos o Fluminense morrer. Pois agonizante ele estava. Na UTI. Veio a redenção, nosso futebol voltou em grande estilo, escorado então em gente que hoje está na DT. Agora, na arrancada final do atual campeonato, podem estar torcendo como nós. Mais, é difícil. A aventura do que é uma caravana "rolidei", fora da Primeirona, sentimos na pele e no coração. Esconjuro! 

Rio de Janeiro, 12/08/2013


  • O Clã dos Guinle se incorporou ao Fluminense 50 dias depois da criação do clube. E todos - da família e amigos - que assim decidiram foram considerados fundadores, tal a importância social e financeira daqueles jovens liderados por Arnaldo Guinle.
  • Liderados é a palavra exata pois Arnaldo, então com 18 anos, embora figurasse entre os mais novos do grupo, já se revelava um líder nato. Todos os três irmãos se incorporaram ao clube e os três chegaram à presidência.
  • Os dois primeiros deixaram patente que seu desejo ao assumirem o cargo era somente dar conformação estrutural ao Fluminense, de vez que com a morte do patriarca, em 1912 tiveram que dedicar-se mais às empresas criadas por ele. Tarefas que não eram poucas, sabendo-se que à época o total de acervo chegava à estratosférica soma de dois bilhões de dólares!
  • Lembremos que, pelos laços do casamento aos Guinle se juntaram os Gafrée e os Paula Machado. Negócios que iam das poderosas docas de Santos à empreendimentos que deram lugar ao jardim Guilhermina (originalmente uma grande fazenda em Praia Grande, São Paulo), mais o estádio Eduardo Guinle (Friburgo, Rio de Janeiro), palácios Guinle e Laranjeiras, a gleba do Parque Guinle, a ilha de Brocoió (vizinha de Paquetá) e sua casa de veraneio, o hotel Copacabana Palace, o hospital Grafée-Guinle, o Jockey Clube Brasileiro (com seu hipódromo) e o Yatch Club Fluminense (hoje Iate Clube do Rio de Janeiro), esses oito últimos na cidade do Rio de Janeiro.
  • Mesmo assim, Carlos Guinle assumiu em dois mandatos, não cumprindo nem um ano no primeiro; só onze meses. No segundo, menos ainda, de sete meses. Com o terreno aplainado pelos dois irmãos mais velhos, Arnaldo, chegou à presidência e comandou as Laranjeiras durante 17 anos, dois meses e dezoito dias.
  • Primeiro, quinze anos sem interrupção, período das grandes transformações do clube, que ganhou contornos físicos e esportivos de grande potência. Da segunda vez (dois anos e dois meses) Arnaldo teve apenas de consolidar o prestígio e a organização que dera ao Fluminense.
  • Reconhecido o seu poder de gestão, ele foi desafiado a outras empreitadas, tornando-se o único brasileiro a dirigir, embora não simultaneamente, a Confederação Brasileira de Desportos (a atual CBF) e o Comitê Olímpico Brasileiro. Onde igualmente mostrou seu valor.
  • Aclamado unanimimente patrono do Fluminense, em 1955 retornou ao posto, em momento de grave crise. Tapou com seus recursos o buraco financeiro, recolocou o clube nos trilhos e voltou para casa. Fez tudo isso em 18 dias.
  • Só voltaria uma última vez ao clube de seus sonhos de juventude no dia 26 de agosto de 1963. Era o primeiro herói tricolor a ser velado no salão nobre do clube. No salão nobre da sede que ele idealizara e construíra. No Fluminense que Arnaldo Guinle tanto amou e dignificou.


Rio de Janeiro, 10/07/2013

  • As famílias formaram o arcabouço do Fluminense, ajudando-o a progredir em ritmo acelerado pouco tempo depois da fundação. Foram decisivas a dedicação e o trabalho de cada uma delas. A de Henrique Coelho Netto teve destaque.
  • O escritor logo transformou o clube em extensão da sua casa. O que era natural: morava pertinho, na rua que hoje leva seu nome. Chegou a vice-presidente social e poderia ter ido além. Talvez presidente, tal o seu prestígio. Mas resistiu à tentação. Tinha uma prole grande e a mantinha com os subsídios de deputado pelo Maranhão, que não eram estas somas fabulosas de agora, mais as crônicas para os jornais e revistas, além da tintagem dos seus livros. Obra atacada pelos modernistas e que só o futuro soube dar o real valor.
  • Dos meninos, Mano (Emanuel) escolheu o futebol; Preguinho tornou-se poliatleta campeão; Paulo não se acertou no esporte, mas seguiu os passos do pai, escreveu o livro do nosso cinquentenário, criou a Revista do Fluminense e ocupou uma cadeira na Academia Carioca de Letras. Jorge preferiu dedicar-se ao ramo empresarial.
  • As meninas brilhavam nos saraus do clube. Violeta (que fora nadadora), no canto lírico que a tornou famosa como a maior intérprete de "Madame Butterfly". Zita, declamadora de grande potencial dramático. Dina, bailarina invejável. Segundo os contemporâneos dessa primeira geração de Coelho Netto, o grupo fazia sucesso.
  • Paulo foi vice-presidente de publicidade em várias gestões. Preguinho, de atuante liderança política, organizou o plano de renovação de valores no futebol, mas não tinha como objetivo ostentar a carteirinha de diretor. Para ele, bastava ser consagrado como primeiro grande benemérito da história do clube. Isso e mais o trabalho constante onde e quando o Fluminense o chamasse. Exemplo? Idealizando todos os desfiles tricolores dos jogos da primavera e dos jogos infantis. E a voz de Violeta (Coelho Netto de Freitas) ainda se faz presente na gravação especial do hino (não a marcha oficiosa de Lamartine Babo) do Fluminense. O do maestro Cardoso de Menezes. Aquele, cheio de pompa e circunstância, que começa assim: "Companheiros de luta e de glória..." e por aí vai.
  • Na verdade, os Coelho Netto nunca falharam nos momentos de crise. Assim foi em 1955, quando Jorge Amaro de Freitas (marido de Violeta e, portanto, genro do velho Henrique) foi convocado por Arnaldo Guinle para assumir a presidência e cumprir um mandato tampão. Economista industrial, deixou tudo de lado, e com Jorge Frias de Paula na vice-presidência ajudou o clube a se livrar de um desastre iminente.
  • Embora por desígnios do destino, a família Coelho Netto dirigia o Fluminense de fato e de direito, em que pese sua incontestável importância, seria a primeira e última vez que isso aconteceria. 



Rio de Janeiro, 03/07/2013
  • A lista de tricolores que se tornaram expoentes da nossa cultura é muito extensa. Tem nomes que envergaram o fardão da Academia de Letras, outros que por motivos diversos não chegaram às poltronas acadêmicas, mas todos são reconhecidos pelo seu valor. 
  • Sem qualquer ordem cronológica ou para gabaritar talentos, não se pode esquecer Otávio Faria, Nelson Rodrigues, Millor Fernandes, Sérgio Porto. Otávio, autor celebrado da saga de obras sob o título geral de "Tragédia Burguesa", teve vida mais assídua às coisas do Fluminense. De família tradicional e abastada, financiou o plano de Preguinho de renovação que deu tantos craques ao futebol tricolor.
  • Nelson Rodrigues mais recente na nossa memória, dispensa adjetivos. Escritor, teatrólogo, colunista, frasista dos paradoxos, líder do concretismo-abstrato (se isso é possível) era o verdadeiro Dom Quixote brandindo sua Remington tricolor contra os monstros que usam - e usavam - outras camisas.
  • Eu que o diga! Convivi com ele quase que diariamente por mais de 20 anos na redação de O Globo. Ambos à sombra das chuteiras imortais, apelando para os bons fluidos do sobrenatural de Almeida e ouvindo, de olhos rútilos, da boca da cabra vadia, as odes ao passado e aos augúrios do futuro do Fluminense.
  • Millor Fernandes não foi Milton, como a família queria, por obra e graça de uma caligrafia difusa do escrevente do cartório ao registrar seu nascimento. Mas Deus escreve certo por linhas tortas e para sempre só haverá um Millor no mundo que tem tantos Miltons. Circulou por todos os recantos da cultura, do sério ao bem-humorado, deixando uma esteira luminosa por onde passou. Tricolor também dos melhores, esse menino do Meier.
  • Sérgio Porto (se quiserem Estanislaw Ponte Preta) não se fez de rogado ao entregar-se ao Fluminense embora fosse de família majoritariamente botafoguense. Colunista do dia-a-dia, radialista infávido e implacável cronista dos costumes, empunhou seu chicote satírico envolto nos personagens do fictício grupo dos Ponte Preta, de que o primo Altamirando era figura de prova, ao lado de tia Zulmira.
  • Se não bastasse isso, deixou como legado a insuperável coletânea do "Febeapá" o festival de besteiras que assola o país. Nele alinhava as bobagens de autoridades e não-autoridades, mostrando-lhes o ridículo. Morreu cedo, após uma série de infartes. Se vivo fosse, seu "Febeapá" teria hoje mais volumes que "Tragédia burguesa"do Otávio...


Rio de Janeiro, 26/06/2013

  • Em fins de julho, início de agosto, na Bienal do Livro, a ser realizada no Rio-Centro (Barra), o Fluminense terá um estande especial. Nele estarão expostos livros e publicações que contam a história e estórias do clube, e também de seus maiores expoentes.
  • Essa exposição poderá ser posteriormente trazida para a sede das Laranjeiras, de acordo com o calendário esportivo-social, abrindo-se assim para um público que acha o local mais acessível que o Rio-Centro.
  • Em cogitação também a possibilidade de se contar com expositores e mediadores tradicionalmente tricolores, entre eles, o poeta Pedro Bial, a líder da literatura juvenil Thalita Rebouças, além de Carlos Heitor Cony, membro ilustre da Academia Brasileira de Letras.
  • E ninguém estranhe essa faceta cultural do Fluminense. Afinal, um dos fundadores da ABL, Henrique Coelho Netto (primeiro ocupante da cadeira 2) era tricolor doente, foi vice-presidente social do clube e criou uma dinastia familiar que engrandeceu a história do Fluminense. Torcedor renitente, ficou famoso o episódio em que, num jogo nas Laranjeiras, irritado com as decisões do juíz (contra o Fluminense, claro) invadiu o campo e quebrou o guarda-chuva na cabeça do chamado “mediador da contenda”.
  • Ao lado de Coelho Netto, ajudando-o na empreitada, o padre Romualdo, que usou como arma a sua bengala.
  • O padre, pároco da Igreja Nossa Senhora da Glória e fotógrafo exaustivo do clube, ao ser interpelado por algum gaiato – “Padre, tem que se confessar. Bater em juíz é pecado!” retrucou: “Pecado é roubar o Fluminense. Pecado capital!”
  • A Academia Brasileira de Letras, desde Coelho Netto, sempre teve tricolores em seus quadros. Naquele tempo, Oswaldo Cruz; depois, Otávio Faria, Austragésilo de Athayde; hoje, o jornalista Merval Pereira Filho. E Cony, lógico.
  • Em tempo: não sei se Machado de Assis (fundador da ABL, primeiro presidente e patrono da cadeira 23) era tricolor. Mas se nasceu aqui, era Fluminense. E, consagrado como “o bruxo do Cosme Velho”pelo menos vizinho do Fluminense ele era…

Rio de Janeiro, 19/06/2013
  •   Arnaldo Guinle foi e é o único brasileiro que presidiu as duas entidades esportivas do Brasil: a Confederação Brasileira de Desportos (hoje, de Futebol) e o Comitê Olímpico Brasileiro.
  • Embora tenham ingressado no Fluminense algum tempo após a fundação, Arnaldo Guinle, seus irmãos e amigos da alta sociedade receberam a honra de serem considerados fundadores. A história provou que esse "jeitinho" foi providencial para o progresso do clube.
  • Um dos mais arraigados mitos em relação ao Fluminense é a história da existência de um túnel subterrâneo ligando o Palácio Guanabara ao clube. Balela. O que houve - e ainda há - é um portão de ferro que se abre no túnel de entrada de automóveis (Rua Pinheiro Machado). Por lá é que o presidente Vargas saía do palácio quando ameaçado nos anos 30 pela intentona comunista e integralista.
  • O presidente Mário Pollo passou à história tricolor como o grande pensador do clube. São dele as seguintes frases, todas premonitórias: "No Fluminense, quem sabe, não fala, e quem fala, não sabe". A segunda: "Vai chegar o dia em que, para presidir o Fluminense, quem pode, não quer; quem quer, não pode". E a definitiva, que outro tricolor, Nelson de Andrade, aproveitou para o Salgueiro quando presidiu a famosa escola de samba: "O Fluminense não é maior, nem melhor. É apenas diferente".
  • Em seus cento e tantos anos, o clube teve dezenas de estatutos. Curiosamente, durante a gestão de Alaor Prata (esse mesmo que foi prefeito do Distrito Federal) o clube esteve ordenado por regulamentos. Baixados pelo presidente, eles previam tudo, em especial como se vestir e se comportar nas dependências do clube.
  • Por sinal, embora não tenha a glória que merece, foi Alaor Prata que conseguiu para o Fluminense o grande time campeão carioca cinco vezes em seis anos: 36/37/38 e 40/41.
  • Alaor aproveitou a brecha do profissionalismo - São Paulo ainda tinha amadorismo no futebol - e trouxe mais da metade da seleção paulista.
  • Por ciumada boba, a federação do Estado do Rio é a única do Brasil (e talvez, do mundo) que não ostenta no nome o gentílico do estado. Em vez de ser Federação Fluminense de Futebol, a exemplo do que acontece desde de o Acre ao Rio Grande do Sul. E surgiu uma estapafúrdia Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro...
  • Nesse mesmo ano da fusão Guanabara - Estado do Rio, surgiu também um campeão carioca (bi) tipo Cica. Aquele doce em lata que era três ou quatro em um. Mas esse era só um; marmelada...